Temos apenas uma vida e é essa vida o nosso bem mais
precioso.
Viver e ter a oportunidade de a documentar para a
posterioridade não tem preço ou, em última analise, é indiscutível que o preço
que tem fica muito aquém do real valor da obra.
Se fossemos gatos, em vez de uma vida tínhamos sete.
Se fossemos gatos, não tínhamos uma biografia mas sim uma
enciclopédia de vida constituída por sete fascículos, o que não seria barato.
Se fossemos gatos, o nosso instinto felino levar-nos-ia
a regatear o preço da obra argumentando que a nossa sexta vida foi breve
e a terceira bastante desinteressante.
Felizmente isso não acontece. Temos só uma vida mas é uma
vida que vale por muito mais do que sete.
Porque não escrevermos uma autobiografia, em vez de deixar a
Manuela contar a nossa história de vida?
Em primeiro lugar, pela mesmíssima razão pela qual quando temos
uma apendicite não nos estendemos na banca da cozinha com a faca de cortar a
carne na mão.
Cada um é para o que nasce, e a Manuela, além da comunicadora
de excelência que todos conhecemos, tem uma sensibilidade que lhe permite
transmitir a história da nossa vida de uma forma única e apaixonante.
Por fim, não devemos escrever uma autobiografia por uma
questão de legalidade. Alguma vez viram uma autobiografia autorizada?
Eu não, e no entanto, estou farto de ver nas prateleiras das
livrarias Biografias autorizadas pelo que, certamente, só estas são legalmente
permitidas.
Quem não gostaria de ler o livro da vida da desaparecida mas
tão querida avó? Ou o livro da vida daquele tio que ninguém na família
compreendia?
Ao contrário do que seria previsível, ter uma biografia não
é uma acto egocêntrico, expressão máxima de que o centro do Universo é o nosso
umbigo. Ter uma biografia é um acto de partilha. É uma declaração de que o que
de relevante nos aconteceu, e que queremos contar, está à disposição daqueles
que gostamos. Sabemos bem o que um livro pode fazer por nós:
Lemos livros que moldaram o nosso ser e transformaram as
nossas vidas. Livros que nos fizeram rir e chorar à velocidade de um virar de
página. Livros que nos fizeram amar e criar ódios. Livros que nos fizeram
idolatrar e adorar a personagem principal apesar de sabermos que esta não
existia.
Graças ao “a minha vida dava um livro” se calhar um dia essa
personagem será real e quando menos esperarmos vem alguém, que gostamos muito,
dar-nos um forte abraço e dizer entre lágrimas “ Pai, és o meu herói” e bastará
um momento como esse para perceberemos como valeu a pena.
Como seria triste chegar ao fim e a nossa vida se resumir a
um apático livro em branco.
João Pinto Costa - Colaborador na revista Sábado e autor do livro MAIL de UM LOUCO
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