segunda-feira, 2 de maio de 2016

Vida, o que cada um faz com a que tem



Todos temos a vida que nós mesmos delineamos ter.
Talvez não concordemos com ela e nem admitamos que a vida que levamos seja fruto das nossas próprias escolhas. Ou culpamos o destino, ou as outras pessoas ou qualquer outra força superior a nós, mas se pudéssemos, com certeza, não seria essa a vida que levaríamos.
É este o pensamento? Se pudéssemos teríamos feito tudo diferente e teríamos seguido outros caminhos com outras  pessoas.
Mas todos temos uma.
Mais difícil, mais fácil ... com ou sem livre arbítrio, todos temos uma.
Enquanto fazemos o caminho, pouco agradecemos, pelo contrário, culpamos Deus e o mundo pelas más escolhas (se é que existem) ou pelos desgostos e tristezas que guardamos pelo nosso ADN, porque se as alegrias se sepultam nas memórias, os desgostos e as tristezas jazem por debaixo da pele e na corrente sanguínea. Por isso, as recordamos mais ... porque estão logo ali ao toque.

Todos temos uma vida cujo percurso pode ser devastador visto por cima do ombro, ou construtivo, encarado de frente, tudo depende com o que fazemos com a história da nossa vida e com a forma cerâmica que damos a cada personagem, cena e cenário  que nos representa.
Escrever sobre quem somos é das coisas mais complexas que existem, obriga a uma introspeção, a um avaliar de atitudes, comportamentos e decisões. Obriga-nos a chafurdar no passado, a rebolar por cada escalada feita. Pode doer e dói. Claro que dói. Porque nem sempre concordamos, hoje, com o que decidimos ontem e essa decisão, quando levada a um mau resultado, fere-nos dia após dia com as inúmeras  probabilidades ao nosso alcance que não foram opção.
E vivemos no presente com o raio do passado preso à perna como uma corrente que nos limita a velocidade e o percurso futuro.
Quando escrevemos sobre nós, passamos a construir uma nova perspetiva, quem realmente éramos porque a decisão tomada jamais seria a de hoje. Portanto, temos pessoas distintas resultado de caminho que nos foi aprimorando.
Se não escrevermos sobre nós, alguém o vai fazer e vai contar essa história à sua maneira, adulterando mais que factos, emoções.
Será isso que queremos?
Que alguém nos conte sobre a sua visão?
Ou queremos que alguém nos leia sobre a nossa?
Escrever uma biografia é ficar em paz connosco, perdoar-nos pelos erros, aceitarmos as decisões e acreditar que crescemos o suficiente para continuarmos a viver um pouco mais para irmos justificando as leituras de quem nos pega nas mãos.
Ler é um passe de magia. Conseguimos que o leitor nos veja, sinta e chore com uma história que, mesmo não sendo a dele, se cruza aqui e acolá com pedaços da nossa.
Escreva sobre si ... porque é a última das últimas missões de quem anseia por ser imortal.

Manuela Pereira

Sem comentários:

Enviar um comentário